Na simples e pequena igreja nasceram a Irmandade e as primeiras ações em favor dos mais carentes. Mas, em 1775, apesar dos constantes reparos, estava praticamente em ruínas. E a Mesa Administrativa, em 3 de junho, decidiu construir um novo e grandioso templo. Era provedor da Irmandade Dom José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco, que, três dias depois, como Bispo Diocesano, abençoou sua pedra fundamental. Desde os traços iniciais de Francisco João Roscio, engenheiro militar português, o projeto, à medida que prosseguia a construção, foi sendo alterado por competentes nomes da engenharia, como Job Justino de Alcântara, Gustavo Waehneldt, Bettencourt da Silva, Ferro Cardoso, Evaristo da Veiga e Antonio de Paula Freitas, o engenheiro da última fase da construção, e ainda o talentoso Mestre Geral das Obras, o antigo carpinteiro José Francisco dos Santos.
Notáveis artistas, escultores, muralistas, mestres de cantaria, carpintaria e serralheria, pintores e artífices, na maioria brasileiros e portugueses, contribuíram para o enriquecimento artístico da igreja.
O resgate histórico da igreja de N. S. da Candelária e da Irmandade tem sido objeto de profícuas pesquisas e estudo. Na vasta literatura sobre ambas, avulta a obra de Francisco Batista Marques Pinheiro – Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguezia de N. S. da Candelária e sua repartições, Coro, Caridade e Hospital dos Lázaros. E os estudos do Irmão Benemérito museólogo Arnaldo Machado complementam as informações disponíveis no Arquivo da Irmandade, Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro– IHGB.
Pesquisas realizadas nos arquivos da Torre do Tombo, em Portugal, confirmaram a data de criação da paróquia de Nossa Senhora da Candelária em 18 de agosto de 1634. Em setembro de 1811, cerimônias litúrgicas marcaram a inauguração parcial da igreja, com a bênção do frontispício e dos altares, e a trasladação do Santíssimo Sacramento e das imagens sacras.
Um dos seis painéis de João Zeferino da Costa que, na abóboda da nave central, compõem a “série histórica”, mostra a chegada do cortejo com a imagem de N. S. da Candelária, aclamada por seus devotos. A cerimônia marcava a entrega do templo ao culto.
Inaugurada definitivamente em 10 de julho de 1898, por Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, a igreja fora erguida entre prédios do quarteirão formado pelas ruas da Candelária, Quitanda e das antigas General Câmara e S. Pedro, estas duas hoje inexistentes, demolidos que foram, para a abertura da Av. Presidente Vargas, de 1942 a 1944, as demais igrejas e todos os prédios construídos entre elas, até à Praça Onze de Junho.
Pôde, então, a igreja da Candelária expor toda a sua majestade, admirada em qualquer ponto da Avenida, que se estendeu até ao final da Cidade Nova. A planta baixa tem a forma da cruz latina, em que a nave central é a parte inferior da haste; a capela-mor, a parte superior; os braços são as capelas-fundas, com os altares do Santíssimo Sacramento e de N. S. das Dores, única imagem de roca do templo (de madeira, com trajes de tecido).
A verticalidade deste monumento religioso, herança da arquitetura gótica, com o predominio de sua altura, lembra aos cristãos a maior aproximação a Deus. De expressiva volumetria, a fachada principal mostra ainda o estilo neoclássico, no frontão triangular ornamentado.
As janelas, portas e as aberturas circulares – identificadas, na arquitetura, como olho – que se multiplicam por todas as fachadas – são coroadas por adornos neoclássicos. As duas torres sineiras abrigam, cada uma, três sinos e o seu traço arquitetônico fortalece o sentido da verticalidade da construção. Pináculos, azulejos decorativos, cruzes e sinalizadores cardeais ornamentam a parte superior de cada torre. Os dois relógios indicam, um as horas, em sintonia com os sinos que tocam, também, os quartos de hora, e o outro, os dias do mês e da semana e ainda as fases da lua.