Nave Central e Cúpula

As Obras-Primas de Zeferino da Costa na Igreja

Em 10 de maio de 1879, a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária assinou contrato com o pintor João Zeferino da Costa para realização das pinturas murais da cúpula, pendentes, capela-mor e fundas. Em 1883, as pinturas da capela-mor e cúpula foram concluídas.

No teto da capela-mor estão os quadros: Esponsalício da Virgem; Anunciação da Virgem; Purificação da Virgem; e Assunção da Virgem. Na cúpula temos os quadros da Santíssima Virgem e as sete virtudes: Fé; Esperança, Caridade; Prudência; Justiça; Fortaleza; e Temperança.

Em 1889, o artista foi novamente contratado para realizar a pintura mural dos seis quadros históricos do teto da nave central. Eles estão ligados à história da Igreja desde 1630 até 1811, sendo: A Partida; A Tempestade; A Chegada; O Voto Cumprido; A Sagração (benção da primeira pedra do atual templo, em 1775); e A Inauguração (da atual Igreja ou Trasladação das imagens em 1811).

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João Zeferino da Costa. Fonte: Reprodução fotográfica de pintura de Henrique Bernardelli, séc XIX, 189-. Acervo da Irmandade.

João Zeferino da Costa

1840—1915

Foi um notável pintor, desenhista, decorador e professor brasileiro, nascido no dia 25 de agosto, na cidade do Rio de Janeiro. Ingressou na Imperial Academia de Belas Artes em 1857. Durante sua formação, Zeferino participou de diversos concursos, obtendo medalhas e menções em Perspectiva, Pintura Histórica e Desenho de Modelo Vivo. Em 1868, conquistou o prêmio de Primeira Ordem, recebendo uma viagem à Europa com permanência de cinco anos, a qual foi prorrogada por mais três anos. Mais tarde, o talentoso estudante tornou-se ilustre professor da Academia, onde orientou proeminentes artistas brasileiros.

Grande pintor mural contemporâneo, Zeferino da Costa também concebeu obras de imenso valor artístico em pinturas de cavalete, são elas: Daniel na gruta dos leões; O Óbulo da Viúva; A Caridade; A Fiandeira; e Moisés recebendo a tábua da lei.

No entanto, como cita o museólogo e historiador Arnaldo Machado em um de seus livros, foi na decoração da Igreja de Nossa Senhora da Candelária que João Zeferino da Costa consagrou-se como expoente da pintura brasileira e tornou-se venerado no mundo artístico. As pinturas murais da nave central e cúpula da Igreja são consideradas verdadeiras obras-primas da pintura histórica e arte sacra nacional.

Arnaldo Machado destaca que o trabalho artístico de Zeferino sempre despertou admiração e entusiasmo. Entre os relatos apresentados sobre as obras do artista, destacam-se:

A composição não tem rival no Rio de Janeiro, quanto à magnitude dos assuntos tratados com técnica magistral, quanto às reconstituições arqueológicas constantes dos painéis da nave; quanto às dificuldades de perspectivas vencidas nas concavidades e curvaturas dos tetos, naturalmente por estudos prévios em cartões, onde Zeferino da Costa seguiu à risca as lições dos maiores mestres da Pintura Histórica”, Araújo Viana, em comentário no prefácio do livro de desenho escrito pelo mestre. (2,3)

Na decoração da igreja de Nossa Senhora da Candelária tudo empolga e mostra a maneira segura empregada na solução de todos os problemas existentes no trabalho, aliás bem fora do comum. No conjunto presenteado às gerações, todas as modalidades de pintura aparecem. Lá se encontram o retrato, a paisagem, a marinha, o gênero, os costumes, os animais, o nu, os ornatos, os panejamentos; a interpretação de tudo é perfeita. As paredes do templo foram para o artista um grande espelho, mas um espelho mágico que para sempre guardou sua alma grande e penetrante (…)”, Professor Adalberto Pinto de Matos.(4)

As obras do artista na Igreja da Candelária estão assim distribuídas:

Nave Central: A Partida; A Tempestade; A Chegada; O Voto Cumprido; A Sagração; e A Inauguração.

Cúpula: Santíssima Virgem; Fé; Esperança, Caridade; Prudência; Justiça; Fortaleza; e Temperança.

Pendentes: Isaías; Jessé; Davi; e Salomão.

Capela-mor: “Esponsalício da Virgem”; “Anunciação da Virgem”; “Purificação da Virgem”; e “Assunção da Virgem”.

Coro: “Invocação de Santa Cecília” e “Coroação da Virgem”.

Consistório: “Instituição do Santíssimo Sacramento”.

Além das pinturas murais, Zeferino da Costa executou na Igreja todas as outras decorações em pintura, nos intervalos dos quadros, nas paredes e nos tetos das seis janelas do corpo principal, nas molduras dos arcos mezaninos e nos ornatos de estuque.


Referência Bibliográfica

  1. Arnaldo Machado, Candelária – As Pinturas Murais, edição artesanal, Rio de Janeiro, 1984, p. 11 a 15.
  2. Araújo Viana, prefácio em Mecanismo e Proporções da Figura Humana, de João Zeferino da Costa, reeditado em separata de Arquivos, ENBA, Oficina Gráfica da Universidade do Brasil, Rio, 1961.
  3. Araújo Viana, ob. cit., p.17.
  4. Adalberto Pinto de Matos, Zeferino da Costa – O Pintor da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, Rio, 1944, trabalho datilografado existente na Biblioteca da ENBA, p. 20.

Estudos em tamanho reduzido para o mural na Igreja da Candelária, assinados pelo pintor.
Óleo s/ madeira, 62,5 x 46,5cm, Roma, 1896 — Coleção: Jaime G. Ramaciotti